terça-feira, 25 de novembro de 2014

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Mentira Perfeita


Quando as plumas se vão, a carruagem parte, e por sobre o terreno lamacento e encharcado vemos exatamente o que esperamos, afoitos, com medo. Vemos as realizações, sucessos, fracassos, lembranças do futuro próximo, dores e cores do passado, enraizadas como armas pontiagudas vindas das mais diversas origens e tocadas pelos mais diversos tipos de caráter. Infinitamente complexo, delicado e arriscado. 

Através da revelação de imagens perdidas em meio digital, foi possível sentir o drama, o caso de amor, próprio, o frio, o medo de qualquer julgamento que não... é... me agradasse.

Um drama amargurado. Racional. Me parece que sabiam! sim, que a grana iria acabar. A vida era assim. Como se fosse uma mentira, comprada na Rua Oscar Freire, em São Paulo, em uma época que quero deixar literalmente enterrada, varrida, banida, da minha vida de hoje.

As pessoas mudam. Sempre. Só não muda quem normalmente tenta mudar a todos por comodidade ou por dificuldades inerentes ao processo de auto-conhecimento, sugerido em casos de perdas radicais ou processos nos quais eventualmente somos apoiados por pessoas raivosas, pseudo-defensores travestidos de bons amigos. 

Criaturas monstruosas capazes de sufocar até a morte qualquer ser vivo. Parece que o amor não é bem visto pelas pessoas. 

Seres inflexíveis, frios, desmotivados, sem sentimento, que permanecem presos ao cerne da situação. O processo de criação de um novo simulacro, de um novo roteiro, é o processo de renascer para uma vida de verdade. 

Inúmeras tentativas de persuasão traidora acontecem muito mais do que imaginávamos.

Nosso "best man" é literalmente focado em resultados e não aceita viver sem ter a certeza de que atinge sistematicamente altíssima performance em qualquer sorte de atividade, tarefa, processo, dispositivo, equipamentos, automóveis, e até mesmo em jogos de vídeo-games. Diante de uma situação confusa, cheia de memórias e sonhos, ainda vivemos a realidade atual. A complexidade deste progresso, que nos afasta cada vez mais de nós mesmos.

Parece que todos hoje querem cumprir uma estranha meta de deixar qualquer  um que expresse sentimentos, na situação mais vulnerável possível. Somos analisados por bases comparativas de sucesso, sendo sabedores de que neste circo, tomar, roubar, ludibriar, enganar, torturar, castigar, e até matar pode ser necessário. Metaforicamente ou literalmente. 

Como seria poder se soltar e, ufa!

Tal pesquisa há muito já se encontra entranhada na minha vida, na rede, nuvem. Nas minhas nuvens. Sou liberado, dono do meu nariz.

Odeio amar a frase de Pessoa, ele diz " odeio que me peguem pelo braço. Não me venham com estéticas, morais, éticas…, pre-programadas". Não acredito em set up natural para governar comportamentos que não surgiram naturalmente. 

Decupamos a vida, os segundos, minutos e horas, durante todo tempo. Simulamos o nem sempre terrível, mas nada doce, nunca inabalável ritmo e plano da Vida. Todos temos medos. Já adianto, tenho também, claro morro de medo de várias coisas, mas não tenho medo de usar palavras de qualquer sorte para me expressar. 

Nos meus planos, a decupagem ainda traz surpresas e decepções que deixarão o cliente (ops!) imobilizado, por dentro e por fora. Assim, valei me Deus, não é o final dos melhores, mas enfim, ufa! Desfecho, fim de linha. Ponto final. Passado. Debaixo do braço, aguda a dor que sinto bem nas tripas. 

A exploração do pântano lodoso existente em cada um de nós pode trazer revelações surpreendentemente mais lamacentas, recheadas de barro, borradas de ódio ou lambuzadas de um amor consistente, simples, mas verdadeiramente confuso atrelado ao ego. Pode até nascer um Lírio. 

Que tipo de ego então se abre por sobre nossas cabeças, claramente de dentro do peito? Retumbante de dor, lama, barro, e finalmente realidade desvendada. Será? A lama não pode ser tratada como sujeira, bem como a Lua não pode ser tão desejada se não se deseja também a luz. A Lua não seria sem o Sol, e mesmo na escuridão, está lá, a luz. Ela nos mostra o caminho através do pântano, sem se sujar.

O que somos está aqui, palpável, físico, racional, hoje. Nem ontem nem amanhã. Hoje. Fruto de todo o passado vivido ou não, até os últimos segundos antes de eu terminar esta frase. Lembranças do futuro podem sim existir. Eu li isso em algum lugar. 

Saudade daquilo que ainda não foi. Do que pode ser que já é.

(D.Seabra)